Crítica: De Olhos Bem Fechados (Stanley Kubrick)



Nessas férias eu me programei para alguns filmes clássicos e acabei fissurada pelos títulos do Stanley Kubrick. Eu já tinha assistido Laranja Mecânica e gostado bastante, não somente pelo fato do filme ter a temática do Behaviorismo e a tentativa de modelagem do comportamento, mas também pelo estilo em si. Porém, não cheguei a pesquisar mais sobre o diretor, que agora definitivamente entrou para minha lista de favoritos.
Até então, deste diretor eu assisti Laranja Mecânica, Lolita (1962) e o último filme que dirigiu, De Olhos Bem Fechados, que é o que eu vou falar neste post. Pela experiência com estes títulos, eu posso afirmar que o estilo do diretor é peculiar, não se trata de apenas um filme com temática perturbadora e difícil compreensão, todos eles são. Até mesmo a escolha de adaptar para a sétima arte o romance de Vladimir Nabokov (Lolita) já diz muito a respeito do caráter desse diretor, levando em conta a época em que foi lançado e a temática que é tabu até na atualidade.

Pois então, eu li a crítica que a Lola Aronovich fez no blog dela (Escreva Lola Escreva) em 1999 (mesmo ano do filme). A Lola é uma blogueira feminista doutorada em Literatura em Língua Inglesa que eu adoro e discordo em muitos e tantos pontos. Este é um deles. Na crítica ela afirma que se trata de uma obra "inacabada e imperfeita" e que algumas cenas são "desconexas e parecem não ter nada a ver com nada". Eu tanto discordo quando defendo a hipótese de que ela não tenha compreendido tanto o filme quanto as intenções do diretor com o mesmo.
O filme é como eu citei anteriormente: Possui um caráter perturbador e de difícil compreensão, dando ênfase ao mistério ao longo da trama (que não é desvendado nem pelo personagem principal ao final do filme), e não à lógica e normalidade dos fatos. Se trata de uma sequência de situações sexuais bem inesperadas...

Com Tom Cruise e Nicole Kidman no elenco (que eu acho um casal totalmente harmonioso), o filme gira em torno de sexo e traição, onde após uma discussão com a esposa Alice (Kidman) sobre ela ser capaz de deixar sua família para viver uma aventura com uma pessoa que viu de relance, seu marido, o rico médico Bill (Tom Cruise) sai sem rumo pelas ruas de Nova York e então vivencia as situações que constituem a trama. Durante todo o filme, ele se encontra em um conflito consigo mesmo sobre uma vingança pelo que a esposa lhe contou (até mesmo chega a se encontrar com uma prostituta) e a fidelidade pela mesma, que não chegou a consumar o que relatou (quando por exemplo, ao atender uma ligação de Alice, ele desiste de chegar ao ponto com a prostituta, mas a paga mesmo assim). O médico entre tantas situações estranhas, acaba em uma orgia secreta em um local afastado da cidade, e todo o mistério começa a ficar mais intenso ainda, pois o que se sucede carrega perigo e a insistência do mesmo acerca da descoberta do significado daquilo tudo, além das ligações que começam a aparecer a partir daí. 



Neste filme, é preciso analisar cada situação e pensar no significado que carrega. Acredito que o objetivo de Kubrick com esta obra é justamente o que se passa na cena final do filme, com Alice e Bill discutindo numa loja de brinquedos o que fariam acerca de toda aquela situação, onde Alice responde que "acha que os dois deviam estar gratos por sobreviverem às suas aventuras, as sonhadas e as vividas". Esse definitivamente é o ponto alto do filme, uma cena com uma interpretação maravilhosa da Nicole que vão com certeza para minha lista de melhores cenas. 

Apesar de eu ter comentado que acho Kidman e Cruise um casal totalmente harmonioso do cinema e que na cena final Nicole se saiu absurdamente bem, tenho que colocar aqui que não gostei da atuação dos dois no decorrer do filme. Pode ter sido também a intenção do diretor, mas eu achei que a Nicole se apresentava muito forçada nas cenas, com um sofrimento além do imaginado ao descrever seus sonhos para o marido e isso não me soou poético. Tom Cruise com certeza se saiu melhor para o que eu espero de atuação (é bom frisar isso, pois como eu disse, existem exageros que são técnicas tomadas propositalmente pelo diretor, como o exagero cômico de violência do Tarantino em Kill Bill), porém deixou a desejar em algumas cenas com relação à ingenuidade e  passada pelo personagem, que também foi um tanto exagerada em relação aos perigos que enfrentava.

Tomando tudo isso como base para classificar este título, eu daria 4 estrelas para o filme, pois é excepcionalmente envolvente e tem uma mensagem muito boa por trás, além de respeitar o suspense que é a alma do filme, mas eu não gostei das atuações.


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